Lu Mattos apresenta seu universo “Poptrópicosfera” em show que exalta a diversidade musical
Um mês vivendo na capital chilena.
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- 10 de setembro de 2020
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Fazer 30 anos foi como uma chavinha que virou dentro de mim, estava na hora de deixar a casa dos meus pais. Tenho uma excelente relação com eles, converso com meu pai sobre qualquer assunto, sem nenhum pudor ou restrição. Dois jornalistas que adoram conversar sobre a vida. A conexão com minha mãe também é forte, ela é a responsável pelo meu lado leve e divertido. Sou de uma família de classe média, cresci com uma vida boa, mas sem grandes luxos. Porém, viajar sempre foi uma prioridade na minha casa. Eu e minha irmã estudamos em escolas públicas, nunca comprávamos roupas novas, mas viajávamos de três a quatro vezes no ano. Quando eu tinha dez anos, minha mãe abriu uma agência de viagens e, em 2020, ela completa 22 anos de atuação no mercado.
Além de viajar como ajudante na agência da minha mãe, todos os anos economizava dinheiro para fazer as minhas próprias viagens. Nunca gostei de viagens corridas, gosto de tempo para apreciar os lugares com calma. Conhecer a cultura do país e conversar com pessoas na rua. De sentar uma tarde inteira em uma praça e observar a vida naquele lugar. Vem daí o meu encantamento por viajar sozinha, para desfrutar do tempo com calma e fazer os meus próprios planos.
Fiz as contas de quanto me custaria deixar a casa dos meus pais. Com o meu salário de micro empreendedora no ramo da comunicação daria para ter o mesmo padrão de vida que tinha vivendo com eles, só teria uma único problema, não me sobraria dinheiro para fazer uma viagem longa internacional, como faço todos os anos. Talvez eu poderia trabalhar mais, abrir mão dos meus finais de semana, eram os pensamentos que rodeavam a minha cabeça.
Foi então que me lembrei das pessoas que acompanhava na internet, pessoas que viviam e trabalhavam na estrada. Eu poderia fazer o mesmo, e passei a pesquisar sobre a vida dos “nômades digitais”. Meu trabalho já não me exigia um escritório fixo, na época, eu tinha um escritório montado só pelo motivo de que me fazia bem sair de casa para trabalhar. Porém, para desenvolver minha função, só precisava de uma internet e um computador, e isso eu conseguiria encontrar em qualquer lugar do mundo.
Foi assim que no dia 18 de Março de 2019, eu deixei a casa dos meus pais, os meus amigos e a minha cidade, Belo Horizonte, e parti só com uma passagem de ida para o desconhecido. O plano era passar por todos os países da América do Sul, tinha algumas rotas traçadas na cabeça, mas nada muito definido, eu iria deixar apenas o destino me guiar. Não tinha pressa para nada, e se gostasse de um lugar, estenderia minha estadia até enjoar.
Cheguei à cidade Santiago, capital do Chile, em uma manhã ensolarada, com aquele friozinho gostoso que somente uma blusa de manga comprida resolveria o problema. É uma sensação diferente, quase inexplicável, chegar a uma cidade desconhecida, onde você não conhece absolutamente ninguém, e não tem a mínima ideia de como será sua vida nos próximos dias. É uma mistura de ansiedade, felicidade, expectativa, curiosidade e uma vontade de desbravar o novo. Muito diferente de quem chega com uma passagem de volta marcada e um pré roteiro estabelecido. Aconselho a você experimentar um dia, se tiver possibilidade.
Me hospedei em um dos bairros mais procurados pelos turistas, chamado Providencia, ele está localizado perto de outros bairros famosos de classe média alta de Santiago. É uma excelente localização, fica bem próximo do centro, é possível ir andando ou de metrô. Santiago é como São Paulo, é mais fácil, mais rápido e mais econômico pegar um metrô para qualquer parte da cidade. Há várias linhas, e é bem tranquilo chegar a quase todas atrações turística por ele. A minha ideia era justamente essa, ficar em um lugar onde pudesse me locomover com facilidade.
Claro que há bairros residenciais e tranquilos, mas a minha impressão sobre o Providencia é que Santiago é uma cidade que não dorme. Passeando por suas ruas até altas horas da noite, você encontra pessoas de todos os tipos, muitos turistas (principalmente brasileiros) e também diversos artistas de rua. Impossível não parar para assistir a alguma apresentação. Na avenida do famoso Pátio Bellavista, um dos polos gastronômicos da cidade, você encontra diversos restaurantes, bares e casas de festas, é impossível encontrar um horário em que as ruas não estejam abarrotadas de pessoas.
Próximo ao Pátio Bellavista também há várias feirinhas. No mês em que vivi em Santiago, não consegui entender a temática dos horários e dias das feiras nesta região, cada dia ao andar pelas ruas do bairro me deparava com uma diferente. Era uma delícia passar por elas, uma forma de ver chilenos que vieram do campo para vender as suas verduras e os seus artesanatos.
O centro é uma região caótica como qualquer outro centro de uma grande capital do mundo, há muitas lojas e pessoas por todas as partes. Porém, o centro de Santiago possui a sua parte histórica, e concentra muitos pontos interessantes para os turistas (se você vai visitar a cidade, não pode deixar de conhecer). Na Plaza de Armas, um das mais famosas e movimentadas de Santiago, você vai encontrar a Catedral Metropolitana (vale a pena entrar, mesmo que você não seja religioso), o prédio dos Correios, o Museu Histórico Nacional e também o Museu Chileno de Arte Pré-Colombiana – reconhecido como um dos mais completos museus sobre a cultura pré-colombiana do mundo.
Se você procura uma melhor cotação para trocar o seu dinheiro, você vai encontrar também no centro da cidade, nas diversas casas de câmbio na Calle Agustinas. É ali também que várias agências de turismo irão te oferecer opções de passeios, e como os funcionários desses estabelecimentos conhecem bastante a capital chilena é possível pegar muitas informações sobre a cidade com eles. Sobre as agências de turismo, meu conselho é: pesquise bastante. Existe uma variação grande de preços de um mesmo passeio, porém, se você quiser economizar, poderá se decepcionar, por isso, busque indicações com pessoas que já utilizaram os serviços da empresa que quer contratar. Na sua própria hospedagem você consegue se informar sobre os passeios e melhores agências, mas cuidado, muitos hotéis ganham porcentagem nas indicações.
Na região central também estão o Paseo Bandera, a famosa rua colorida da cidade, acredite, você vai querer fazer uma foto por ali. Seguindo por ela, você chegará a Calle Moneda, uma quadra a frente, e à Plaza de La Constitución, onde está localizado o Palácio de La Moneda, sede do governo do Chile e do poder executivo.
Se você gosta de andar, do Palácio é possível ir caminhando até o conhecido bairro Paris-Londres, dizem que é um pedacinho de Europa dentro de Santiago. Quem já visitou a capital Chilena também tem o seu registro fotográfico por ali. É um conjunto de ruas muito arborizadas e simpáticas, com construções lindíssimas e mesinhas de pequenos cafés na calçada. São poucas ruas, mas vale a pena andar por ali, é um charme.
Próximo ao centro, também estão dois lugares imperdíveis da cidade, os cerros Santa Lucía e San Cristóbal. Por que são imperdíveis? Porque você consegue ter uma linda visão das Cordilheiras dos Andes. Ah, para mim, esse é o ponto mais encantador de Santiago, a cidade é rodeada pelas Cordilheiras, para onde você olhe, lá estão elas, extraordinárias e imponentes. No meu último dia na cidade, eu ganhei um grande presente dos céus, a neve. Fui embora olhando para as Cordilheiras branquinhas, uma vista difícil de descrever de tão bonita.
No Cerro San Cristóbal é possível subir a pé, indicado para os atletas de plantão, já que a subidinha é puxada, ou pelo funicular, que é uma experiência bem bacana. Há uma parada para quem quiser conhecer o zoológico Nacional, e no topo há uma igreja, a Virgen de la Inmaculada Concepcion, foi onde o papa João Paulo II realizou uma missa na sua visita à cidade na década de 80. O lugar para mim foi quase mágico, sou religiosa, e no alto do cerro é impossível não se sentir mais perto de Deus, além de uma vista panorâmica da cidade. Por lá, você também encontra lojinhas e algumas lanchonetes.
Já o Cerro Santa Lúcia é menorzinho, a entrada é gratuita, fica localizado bem no meio da cidade, mas é muito bem arborizado, tem uma vista linda de Santiago e quando eu fui estava um friozinho gostoso. É lindo para quem gosta de fazer fotos, há vários cantinhos cheios de flores e paisagens. Foi um passeio que também ficará guardado no coração.
Não posso falar do Chile e não mencionar as suas vinícolas. Para quem é amante do vinho, o país é um destino perfeito. São muitas vinícolas, te aconselho a visitar as maiores e mais famosas, como as Concha y Toro e Undurraga, mas também as menorzinhas. Há pequenos agricultores que possuem modestos vinhedos ou, às vezes, abrem até a sua própria casa para receber poucos turistas por dia, uma experiência muito rica. Você aprende muito sobre a bebida, e vê de perto como são plantadas, colhidas e armazenadas cada tipo de uva. Na parte mais gostosa, a degustação, cada vinícola possui uma temática para apresentar os seus vinhos.
O Chile é um país caro, me assustei com os preços de tudo, principalmente, da alimentação. Nossa moeda é bastante desvalorizada comparada ao peso chileno, mas se tem um produto que é bem mais em conta do que no Brasil, são os vinhos. No supermercado você encontra uma excelente variação de marcas de primeira qualidade. Como o país é frio, principalmente na época em que estive por lá, a bebida ajuda a aquecer o corpo e a alma. Porém, beba com moderação. Todos sabemos dessa regra, mas é sempre bom reforçar (risos).
Outro lugar que conheci, que também me deixou encantada foi o Embalse El Yeso, localizado em Cajón Del Maipo, há duas horas de carro de Santiago. Você passa por estradas à beira de precipícios, é quase impossível não enjoar olhando pela janela as diversas curvas montanha adentro. Mas chegar ao ponto final, e encontrar o grande lago cor de esmeralda ou azul turquesa (depende de como a luz do sol bate sobre a água), é impressionante. Vale cada centavo investido no passeio. Algumas agências de turismo preparam um piquenique às margens do lago, e todos os turistas confraternizam em um lugar quase surreal de bonito. Beber um bom vinho ao pé das Cordilheiras do Andes é uma sensação que recomendo para a vida.
Tiveram diversos outros lugares que valeram muito a pena conhecer, como as cidades vizinhas de Santiago, Viña Del Mar e Valparaíso, mas quem sabe escrevo uma matéria só sobre elas.
Os meus dias em Santiago foram de baixas temperaturas, decidi ir embora da cidade devido ao frio intenso que estava chegando com a proximidade do inverno e também pelo alto custo de vida. Porém, conhecer tão bem uma outra cidade foi fantástico. Andar pelas ruas e ver outros traços ancestrais nas pessoas, os chilenos possuem características físicas bem marcantes, diferentes de nós, brasileiros, que somos uma mistura. Aprendi a respeitar outra cultura, a sua gastronomia e a forma como levam a vida. Ver como o clima pode interferir em nosso estado de humor e na forma como nos comportamos. Me comunicar em contra língua e aprender palavras e gírias tipicamente chilenas, são memórias que levarei comigo.
Foi um mês de muitas amizades, pessoas que conheci no caminho e que me ensinaram tanto. Pessoas com as suas mais variadas histórias de vida, carregando consigo as suas cicatrizes e levezas. Um mês de adaptação a uma nova vida que estava só começando. Um mês de autoconhecimento que levaria muitos anos de terapia para atingir esse estado. Um mês aprendendo a lidar com a minha solitude e com a saudade das pessoas que deixei para trás. Um mês de lugares lindos e sabores novos. Mas chegou a hora de partir para uma nova cultura e uma nova aventura. Passagens compradas para a Guatemala. Sim, sei que você deve estar pensando “Quem vai à Guatemala?”. Devido a uma pessoa que conheci no Chile, eu fui parar na América Central. Eu não disse que ia deixar o destino me guiar? E foi bem assim.
Espero que você também acompanhe os meus relatos sobre esse país pouco conhecido na próxima edição da Revista Viva Grande BH. Até lá!
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