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Tábata Poline: “Não Negocio Minhas Raízes”
- Personalidades Responsabilidade Social
- VivaOnline
- 29 de outubro de 2020
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De sonhadora a apresentadora! A jornalista conversou com a “Revista Viva Grande BH”, e contou um pouco da sua trajetória de vida e jornalística.
Por: Aline Teodoro
Mineira, negra e periférica! É assim que a jornalista e apresentadora Tábata Poline (32), se autodenomina. De riso solto e ao mesmo tempo muito peculiar, Tábata faz questão de enaltecer sua base familiar em sua trajetória de vida: “O que as pessoas veem na TV ou nos trabalhos que realizo, são resultados de 32 anos de uma história fora da televisão. Eu sou filha do Saulo e da Márcia, neta da Lena e da Maria (in memoriam), irmã da Thainá e Kauan e companheira do Diego”, complementa com orgulho a comunicadora.
Apesar do pai e colega de trabalho ser repórter cinematográfico, a vocação jornalística nasceu nos tempos em que, próximo ao Campo do Popular no bairro São Paulo – campo de várzea onde cresceu e colecionou suas vivências – apresentava seu jornal. “Reunia as minhas colegas de infância para assistirem o meu noticiário imaginário, que levava o meu nome com as principais notícias da vizinhança”, conta.
Gente como a gente, a apresentadora afirma não se deslumbrar com o título de jornalista. “As pessoas tendem a dar um valor diferente para os jornalistas. A gente entra na casa delas com muita intimidade. E a devolutiva delas é como se fôssemos inacessíveis, alguém acima da média. E não é assim! Eu sou uma prestadora de serviços. E manter a convivência com as minhas origens, me faz manter os meus pés no chão. Afinal de contas, não se pode negar que a soberba é algo presente nas profissões que têm muita visibilidade”, pontua.
DO COMÉRCIO EXTERIOR AO JORNALISMO
Apesar de conhecer os bastidores das redações desde muito cedo, o pai de Tábata não queria que ela ingressasse no jornalismo. Talvez por vivenciar muitas coisas ruins no dia a dia como repórter cinematográfico, seu pai sempre estimulou a estudar comércio exterior.
O que ele não sabia era que o coração da filha já pulsava por algo mais forte. Tão forte que abriu mão de uma bolsa de estudos no curso que o pai havia proposto, para fazer comunicação.
De lá pra cá, Tábata passou por várias experiências no mundo jornalístico. Desde assessoria de imprensa, até o atual cargo de apresentadora.
RACISMO
Não diferente de 99,99% dos negros do mundo, Tábata reconhece que por muitos anos não percebia que era alvo de racismo, mesmo de forma velada por ser filha de preto com branco. Um fato marcante foi quando ainda na adolescência, viajou com sua irmã e seu pai para Porto Seguro – BA. “Eu sou uma mulher negra que carrega um estereótipo da mulata. E isso é perverso, doentio, além de sexualizar a mulher. Nesta viagem, enquanto estávamos na balsa com outras pessoas, como bons farofeiros (sic), tínhamos nossas sacolas e bolsas com lanches.
Em um determinado momento eu fui abordada por um turista estrangeiro que me perguntou o preço. Inocentemente respondi que não estava vendendo nada, e que aquelas bolsas eram nossas. Ele retrucou dizendo que queria saber qual era o preço para eu transar com ele! Meu pai não ouviu esta parte. E por instinto, não tive coragem de contá-lo”, comenta.
Profissionalmente a jornalista também não foi poupada. Desta vez o racismo foi estrutural. Por conta da cor da sua pele, foi confundida com a copeira em um grande grupo de empresas da cidade em que fazia assessoria de imprensa. E não para por aí. “Quando fui substituir uma assessora colega de trabalho, branca e loira, em um tradicional evento de moda em BH, tive que ouvir de uma das proprietárias que eu não poderia ficar perto delas! Afinal, o evento era importante demais e elas tinham um nome a zelar”, recorda a jornalista. Consternada, ligou para sua chefia que ao chegar ao evento, pediu desculpas pela falta da jornalista branca.
Tábata, politizada, rebateu as ofensas à altura e no tempo certo. Uma delas foi quando já era conhecida por trabalhar na Globo Minas. “Até para ser Luther King tem limites! Sou muito Malcolm X”, pontua.
ROLÊ NAS GERAIS – DE QUADRO A PROGRAMA SEMANAL
Apaixonada pelo jornalismo social, Tábata que ainda era produtora da TV, idealizou um projeto voltado para as periferias de BH para ser um quadro dentro do MG1. Sua proposta não vingou inicialmente, mas tempos depois, seu projeto foi acolhido, com status de programa semanal e este mês completa um ano, com edição especial relembrando as histórias de muitos que ali passaram.
E neste desafio Tábata levou suas vivências para as ruas, certa de que os protagonistas seriam os entrevistados. “Falar do Rolê, me deixa até sem palavras. É algo muito potente! Uma relação de muita confiança e respeito entre eu e os entrevistados. Definitivamente é o projeto da minha vida. Por que fala da vida dos meus… fala da minha vida!
Inúmeras foram as vezes em que a jornalista chorou durante a produção e realização das matérias. Mas um dos momentos inesquecíveis foi quando gravou no Aglomerado da Serra, com o projeto Mulheres Da Quebrada. “Aquilo para mim foi um resgate ancestral. E não estou falando de religiosidade, mas sim do legado de outras mulheres. Foi tão especial que eu agradeci a Deus por ter gravado tudo o que eu precisava antes. Eu chorei tanto depois de todo aquele momento especial, que eu não consegui gravar mais nada”. Relembra.
“Hoje, falo que os principais desafios que a mulher negra enfrenta são: o menosprezo por sempre não nos enxergarem como mulheres pensantes. Ao contrário, somos vistas como serviçais e nunca como intelectuais, donas de si. E isso se estende a todos os ambientes: relacionamentos, amizades e, principalmente, profissional. Às vezes as pessoas acham que estão nos prestando favores e não recompensando a nossa inteligência, capacidade e talento. E como mulher e negra, tenho que provar todos os dias que sou capaz, não sou um pedaço de carne e por último, é que estou onde devo estar”, ressalta.
A jornalista afirma que ter a Tábata, Camila, Aline e Fabiana (colegas de profissão), é uma ação inteligente e estratégica da emissora em que trabalha, em resposta a sociedade para dizer: eu estou ouvindo vocês!
BATE BOLA!
- RACISMO – (Lágrimas…) A pior violência que alguém pode sofrer. Porque é uma violência inteligente que destrói a gente em todas as nossas faces de existir – na infância, adolescência, vida adulta, no mercado de trabalho, no afetivo… É a principal doença e violência que alguém pode sofrer! Não tem como falar de desigualdade sem falar de raça! Não choro de emoção, mas de dor.
- MULHER PRETA – Potência, afetividade, ancestralidade e força. Gratidão às que vieram antes de mim, às que caminham comigo e que virão depois. Por que os caminhos delas serão melhores que os meus, afinal eu vivo para isso!
- CARREIRA – Missão! Uma vida com propósito!
- SONHOS – (Pausa…) Eu sou muito sonhadora! Tem uma frase do pastor Henrique Vieira, que eu me enxergo nela: “eu tento deixar de crer, mas eu não consigo viver sem crer”.
- NÃO NEGOCIO – Minhas raízes! Elas são inegociáveis!