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Projeto 100 mil árvores promete transformar Contagem em uma cidade mais verde
Por Camila Martucheli
Fotos: Divulgação
Uma ideologia no coração, um projeto na cabeça e uma meta ousada: plantar 100 mil árvores em Contagem em 10 anos. Este é o projeto Cidade Viva 100 mil árvores, liderado pelo grupo SOS Vargem das Flores, que começou em parceria com o viveiro Boi Rosado Ambiental. Atualmente, conta com 15 grupos da sociedade civil organizada que tem como objetivo promover a preservação e a recuperação de nosso meio ambiente.
Quem está à frente do viveiro Boi Rosado Ambiental é o professor Joacy Severino da Silva. Ele explica que o viveiro, que foi criado por ele em 2012, participa do projeto produzindo mudas em conjunto com a população. Todas elas são doadas para a própria população. “Cedemos nosso espaço para que as pessoas, sejam elas ambientalistas, artistas ou apenas moradores possam produzir mudas e plantar em nossa cidade”, conta.
De acordo com o professor Joacy Severino da Silva, o projeto Cidade Viva 100 mil Árvores surgiu com uma conversa entre ele e membros da organização SOS Vargem das Flores. “A partir daí, decidimos produzir mudas para plantar na cidade de Contagem, no sentido de recompor os crimes ambientais, com os cortes de árvores e a falta de um plano de arborização urbana” explica.
A professora de História da Rede Municipal de Belo Horizonte, Adriana Souza, completa a história ao afirmar que o projeto surgiu como proposta para minimizar os estragos feitos pelo governo municipal de Contagem, entre 2019 e 2020, quando centenas de árvores foram suprimidas na cidade, especialmente nas avenidas Babita Camargos e João César de Oliveira.
Ela, que é ativista ambiental e, desde 2017, atua no SOS Vargem das Flores conta que, influenciados pelo debate do Movimento Sem Terra (MST) sobre reflorestar o Brasil, com o plantio de 100 milhões de árvores no país, o grupo começou a desenhar o projeto contagense. “Nos organizamos em dez coletivos, organizações socioambientais da cidade, e começamos a nos reunir. O projeto foi iniciado oficialmente no dia 27 de dezembro de 2020, com um replantio simbólico e lançamento feito nas redes sociais, em virtude do distanciamento social provocado pela pandemia da Covid-19”, esclarece.
“Fizemos o lançamento no bairro Europa, com o plantio de 15 árvores em uma praça. O projeto em si propõe que todos os moradores possam interagir com os plantios, independente se peguem as mudas no Boi Rosado”, complementa o professor Joacy Severino da Silva.
O mote, segundo a professora também tem relação direta com a represa Vargem das Flores, “uma vez que, ao plantar árvores, estamos plantando água e vida”. Vale frisar que Contagem é uma cidade exportadora de água, com suas nascentes e lençóis freáticos, por isso é necessário arborizar a cidade para que a água continue sendo ‘produzida’ na cidade.
A iniciativa cresceu e hoje, além de contar com 15 organizações ambientalistas, expandiu para Belo Horizonte e Mateus Leme. Em Contagem, a prefeitura atua em parceria, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, que orienta o grupo a respeito dos melhores locais para os plantios. “Importante frisar que este é um projeto da sociedade civil organizada, sem a participação do poder público. Há apenas essa conversa com a Secretaria para fazermos plantios, em locais que são permitidos e estejam em conformidade com a legislação urbanística da cidade”, salienta a professora Adriana Souza.
Dessa maneira, as mudas estão sendo plantadas em locais públicos de Contagem, como praças e locais reservados para arborização, os quais necessitam de mais árvores. “Já plantamos até agora mais de 200 árvores e doamos cerca de duas mil mudas” comemora a professora.
A ideia, segundo a professora, é fazer o plantio das 100 mil árvores ao longo de 10 anos, ainda que, a meta tenha sido prejudicada em virtude da pandemia e a necessidade de distanciamento social. “Temos objetivo ousado e queremos plantar mais 500 árvores até o final deste ano. Já temos mais de 60 pessoas para fazer a oficina de plantio em novembro e vamos acelerar nos próximos anos. A ideia é fazer com que o projeto continue crescendo”, revela.
Plantios
Os plantios acontecem sempre no último domingo de cada mês e, em função da pandemia, até o momento o número de participantes tem sido restrito, além de haver o incentivo para o plantio realizado na casa das pessoas. “A gente doa a muda do viveiro do Boi Rosado Ambiental, que fica no Clube Arvoredo, bairro Fonte Grande. As pessoas fazem o plantio em suas casas, envolvendo a família. Também fazemos a doação em ações realizadas em defesa da Serra do Rola Moça e da Serra do Elefante”, completa.
Assim como os plantios, no último domingo de cada mês, acontece também um mutirão para produção de mudas no viveiro Boi Rosa Ambiental. Destaca-se que o projeto, além de doar mudas, também recebe doações de pessoas e entidades. “No início deste ano, recebemos cerca de mil mudas de doação”, revela Adriana Souza.
Se você se interessou em participar do projeto, basta seguir suas redes sociais e ficar atento à agenda dos plantios. Qualquer pessoa, ligada ou não a coletivos ambientalistas, pode participar. Também é possível solicitar mudas, gratuitamente, para fazer o plantio em casa. Nesse sentido, o projeto já produziu em torno de cinco mil mudas e pretende ampliar os plantios e doações no período de chuvas.
“As atividades de plantio envolvem a população, famílias e crianças e isso é muito importante, pois, muitas vezes, as pessoas têm dificuldades em se envolver em projetos como este, em virtude da falta de tempo. Por isso, acreditamos que o projeto pode ajudar a construir uma sociedade melhor”, salienta a professora Adriana Souza.
Ela ainda destaca a situação de crise ambiental que o mundo vive atualmente, com muitas mudanças climáticas, cuja relação está diretamente ligada ao desmatamento. “Tudo isso coloca nossa existência em risco no planeta Terra. Quem sabe assim, as pessoas passam a ter mais consciência em relação à necessidade urgente que temos em preservar o meio ambiente, em pensar o desenvolvimento de outra forma, mais sustentável? Queremos uma relação equilibrada entre os seres humanos e a natureza e por isso, nosso projeto pode mudar a nossa cidade e outras também”, pondera.
Participação
A cientista social e doutora em sociologia política professora Carmen Imaculada de Brito é moradora do bairro Novo Riacho e uma das participantes do projeto. Ela tem formação militante na Juventude Operária Católica e atualmente faz parte do Coletivo de Antigos Militantes da JOC de Minas Gerais (CAMIJOC), além de integrar a coordenação da Frente Brasil Popular de Contagem e do SOS Vargem das Flores.
“Decidi participar do projeto por reconhecer nele o potencial de modificar o cenário da cidade e influenciar outras iniciativas como esta em outros municípios. Acredito que pessoas simples, trabalhando em rede, podem, sim, produzir grandiosas e necessárias transformações nos territórios nos quais vivemos”, frisa.
Ela ainda revela que, na Casa da Joc Maria Floripes, no bairro Inconfidentes, há um grupo construindo um viveiro sustentável de mudas. Segundo a cientista social, a construção em bambu irá permitir que este grupo se junte ao viveiro Boi Rosado Ambiental na produção de mudas de árvores e também no cultivo de plantas medicinais a serem utilizadas pelo projeto.
“O ‘Projeto Cidade Viva: 100 mil árvores por Contagem’ é fundamental por difundir e colocar em prática o cultivo de plantas na expectativa de, por meio delas, revitalizar áreas degradadas, embelezar, amenizar o clima, trazer sombreamento e contribuir com a redução da poluição em uma cidade que, historicamente poluiu os ares com fumaça das chaminés das indústrias e com a descarga dos veículos automotores e também não cuidou devidamente dos cursos d’água despejando neles o esgoto, canalizando-os e não impedindo as construções de moradias e de vias públicas no seu entorno”, completa.
O estudante de Física pela USP Keith Richard Brauer também é outro participante do projeto. Embora estude e resida em São Paulo, em virtude do distanciamento social causado pela pandemia da Covid-19, ele está morando no Centro de Contagem com sua família. Para ele, o projeto nasceu do sonho e da necessidade de tornar a cidade mais verde. “Infelizmente, Contagem não tem bons índices de arborização na zona urbana e tampouco um plano municipal para plantio de árvores. Em virtude disso, alguns movimentos sociais e ambientais da cidade se reuniram para conceber esse ambicioso projeto, ao longo de 10 anos”, conta.
O estudante que é pesquisador na área de economia ambiental, na temática do pagamento por serviços ambientais, também colabora com os movimentos levando conhecimento científico a respeito de temáticas nesse contexto. “Eu faço parte de um movimento ambiental da juventude, o Movimento Cidade Sustentável, e quando soubemos dessa iniciativa logo nos engajamos e contribuímos principalmente na etapa de elaboração das mudas. É um trabalho técnico, voluntário e comunitário, que nos alegramos de fazer parte à vista dos seus benefícios a curto e longo prazo”, salienta.
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