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Pedro Lázaro e a Arte - Revista Viva Grande BH
 Pedro Lázaro e a Arte

Pedro Lázaro e a Arte

Edição: Fábio Gomides

A relação que o arquiteto Pedro Lázaro desenvolveu com as artes ao longo de sua vida é de certo modo muito singular. Mais que admirador, Lázaro possui um olhar clínico para analisar e identificar o potencial de um artista em ascensão, além de despertar no espectador essa vontade de promover uma imersão pelo universo criado por ele para abrigar todos esses trabalhos que o fascinam. Suas participações na CASACOR, principalmente na edição de Minas Gerais, sempre fizeram questão de elucidar essa sua conexão com a arte, garantindo esse lugar de experimentação e a formação desse olhar que hoje é tão aguçado a ponto de identificar os rumos do mercado. E a criação destes ambientes instigantes e carregados de conceitos e significados em perfeito diálogo com o que há de mais relevante no cenário artístico brasileiro contemporâneo contribuiu muito para inserí-lo no que denominamos como a alta costura da arquitetura brasileira. E é por este motivo, que ele é o entrevistado da nossa colunista Júnia Nocchi na edição 24 da revista Viva Grande BH. A conversa teve como objetivo refletir sobre o papel da arte em seu trabalho.

Os seus projetos nas áreas de arquitetura, design de interiores e cenografia possuem uma relação muito forte com arte de um modo em geral. Como surgiu isso?

 Eu entendo que o vazio é uma grande matéria-prima tanto na arquitetura quanto para o design de interiores. Mesmo que seja um objeto arquitetônico consolidado onde você vai criar um espaço interior, no meu ponto de vista ele é vazio. Vazio dos valores humanos, das características do habitante, de histórias e de memórias, eu trato este lugar como um grande nada para só então iniciar meu processo de construção. E nessa relação, o ser humano tem uma função importantíssima que é de dar um novo sentido àquele espaço e, para mim, a maneira mais genuína de isso acontecer é por meio da arte e da pluralidade que ela carrega/simboliza uma vez que ela consegue unir em uma única peça a matéria e os sentimentos.

E essa sua sensibilidade para a arte começou quando?

Desde muito cedo eu via um objeto de arte e ficava muito encantado com tudo aquilo. Na época eu não sabia direito o porquê, mas com o tempo eu fui percebendo que era porque ali estava a manifestação de um ser humano íntegro, que acredita nas suas verdades, na sua formação e que tem a necessidade de se expressar daquela maneira. Todos nós temos essa necessidade de nos expressarmos de alguma forma e o artista leva essa questão da expressão até as últimas consequências, ou seja, ele materializa questões e percepções individuais intransferíveis. E isso nos coloca em confronto com muitas questões que são nossas, estabelecendo diversas conexões. Isso tudo foi me deixando cada vez mais emocionado cada vez que eu entrava em um museu ou percebia algum elemento até mesmo da arte popular na minha rotina como profissional criativo.

E qual foi a primeira obra que você adquiriu na vida?

Aos 19 anos, eu tinha uma amiga chamada Vanessa, que comercializava alguns trabalhos e ela estava com série de obras do Marco Paulo Rolla e eu fiquei encantado com tudo aquilo e adquiri um trabalho. Tenho um amigo, que é curador, e que diz que na arte contemporânea quando você consome o primeiro, você é picado por uma espécie de inseto que vai te colocar em contato com ela de uma forma ou de outra para sempre. Tudo porque, à medida em que você disponibiliza recursos financeiros para comprar algo tão imaterial como a arte, você imediatamente é transportado para um mundo muito otimista e se entrega à crença de que o ser humano é incrível, de a percepção dele da natureza é algo mais incrível ainda.

De uns tempos para cá, você tem desenvolvido um olhar muito apurado para identificar novos talentos da arte e quem serão os nomes promissores da atualidade.

Eu não sou uma pessoa que faz uma curadoria de arte efetiva. Nunca estudei academicamente a arte além das questões inerentes à arquitetura, filosofia etc. Tenho um longo caminho de estudos a percorrer nesse sentido e, se acontecer, será resultado de uma trajetória muito fluida e natural em consequência da minha carreira. Nada é mais verdadeiro que sua capacidade de ficar emocionado por alguma coisa. E é uma sensação que vem do nada. A pele arrepia, o olho enche d´água e por aí vai. E por causa dessa minha proposta de trabalho e de olhar, eu comecei a manter contato com essas pessoas que simbolicamente, para o mercado de artes, ainda não “existiam”. E aí eu comecei a adquirir alguns objetos e comecei entender as estruturas processuais reais da arte contemporânea. E então percebi que eu comecei a ser contratado por pessoas que, além de uma boa arquitetura e de um design e de um pensamento estético mais elaborado no sentido humano, as pessoas queriam ter um contato mais próximo com a arte porque elas também estavam se emocionando da mesma forma que eu. E isso me deu ainda mais força e mais vontade de entrar cada vez mais nesse universo.

E agora me conta um pouco mais sobre a sua coleção. Qual ou quais artistas você gostaria de destacar neste momento?

A minha coleção foi construída com muito senso intuitivo e emocional. Nunca imaginei por exemplo, ao comprar um trabalho do Iran do Espírito Santo há um tempo atrás, que hoje ele valeria no mínimo 40 vezes o valor pago na época. Também nunca imaginei que o trabalho da Sarah Lucas, uma inglesa que eu comprei na década de 90 fosse ficar tão valorizado. Isso aconteceu na verdade com quase todo o meu acervo. Mas independente de valores de revenda, todas essas obras foram adquiridas porque são trabalhos que me emocionaram muito. E hoje eu estou muito apaixonado pelo trabalho da Erika Verzutti que se chama Cérebro Cisne. Ela é uma pessoa que trabalha exaustivamente dentro da sua pesquisa e esta é uma obra que me tira do sério de tanta beleza que ela carrega. Bárbara Wagner também dentro deste meu momento. Minha coleção hoje possui cerca de 120 itens, eu costumo fazer um rodízio de obras aqui em casa. E esses dias eu trouxe um trabalho da Barbara logo para a entrada da minha casa. Na verdade, tudo que eu tenho eu gosto bastante. Alguns trabalhos entram e saem de casa várias vezes e alguns outros como de José Bento e Roberto Bethônico nunca saíram, apenas vão trocando de lugar. Também queria destacar o trabalho da Rochelle Costi, que está posicionado de uma forma que parece mais um elemento do espaço arquitetônico, que me fascina. Em determinados momentos você fica mais apaixonado por uma ou por outra, em função de vários fatores como momento histórico, estado emocional etc. Muitas vezes eu reservei peças até sem saber o preço. A escolha foi totalmente baseada na minha conexão com aquele trabalho.

Nos projetos de Pedro Lázaro, as obras de arte possuem uma função que vai além da composição do ambiente. Elas dão a tônica do espaço. Por este motivo, é comum perceber peças de mobiliário posicionadas estrategicamente, possibilitando que o morador/visitante possa não apenas contemplar, mas vivenciar a arte no seu cotidiano.

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