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Fortini: Construindo sonhos por meio do esporte
- Arte e Cultura Bem Estar Social
- VivaOnline
- 30 de agosto de 2022
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O que os traumas da violência na infância podem gerar no ser humano quando adulto? Medo, depressão, transtornos psiquiátricos, sentimento de culpa, vergonha e desesperança…
Apesar das cicatrizes, coragem, persistência, motivação e dedicação foram as marcas do passado deixadas na jovem Maiara Wenceslau. Quando criança, ela enfrentou uma série de dificuldades econômicas e sociais. E encontrou na educação um ponto de apoio. Dentro da escola, foi acolhida e encaminhada para projetos culturais e esportivos, o que a permitiu escrever uma história de superação. Posteriormente, decidiu ajudar outros jovens e adolescentes a trilhar o mesmo caminho, mostrando a eles que, embora existam obstáculos, é possível alcançar os sonhos.
Foi assim que, em 2016, Maiara Wenceslau fundou a Fortini – Investimento Social. Formada em relações internacionais, ela convidou alguns amigos da faculdade para que juntos pudessem dar vida à organização da sociedade civil sem fins lucrativos, que hoje tem sua sede em Contagem.
Atuando na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a instituição desenvolve projetos para atender estudantes de escolas públicas de territórios em vulnerabilidade social, possibilitando oportunidades de socialização e desenvolvimento por meio da prática esportiva. Além disso, os alunos contam com assistência multidisciplinar realizada por profissionais de psicologia, pedagogia, assistentes sociais, entre outros.
Gerida com recursos de doadores e colaboradores – incluindo grandes empresas por meio das leis de incentivo fiscal – a ONG atende, atualmente, mais de 550 crianças e adolescentes de 10 escolas de Betim e Contagem em quatro modalidades esportivas, sendo: tênis de quadra, handebol, judô e taekwondo. Os participantes não têm nenhum custo financeiro para participar das oficinas, mas firmam um compromisso de rendimento escolar com a instituição.
A Fortini existe como catalizadora do potencial de ação de todos os atores que a cercam, em um trabalho conjunto, complementar e multiplicador. Maiara se dedica na busca por parceiros para ofertar aos jovens diversas atividades. As ações são planejadas com o estabelecimento das parcerias e, em consequência, são executadas com a atuação de múltiplos atores.
O processo se inicia na escolha das escolas públicas participantes. Em seguida, a seleção dos alunos; o envolvimento da família; o conhecimento do território: suas fragilidades e potenciais; e, posteriormente, o desafio de como a ONG pode ajudar. “Quem está próximo à escola? Dentistas, barbeiros? Quais os espaços existentes para uma possível aula? Listamos tudo e vamos correr atrás de mais apoio”, conta.
Família
O foco da Fortini é proporcionar aos jovens uma educação transformadora. E para que isso aconteça é fundamental que a família esteja envolvida nessa caminhada. “Acreditamos que o envolvimento da família se dá por meio de uma construção. A Fortini busca um relacionamento com toda comunidade e percorre um trajeto diário para conquistar a adesão de todos. Hoje, não temos a participação de todos os pais, mas se tem algo que nos orgulha muito é a participação da família enquanto instituição social. É realizar um trabalho integrado”.
Num primeiro momento, é realizado um cadastro dos participantes (crianças e adolescentes) e de seus familiares. Posteriormente, eles são encaminhados às atividades e atendimentos disponíveis. “Buscamos acolher e desenvolver as habilidades socioemocionais das crianças e ainda fazer com que os desafios vividos no seio familiar se tornem palestras de esclarecimento e capacitação para os pais”, explica a fundadora.
“Se a gente precisar insistir com a família uma, duas, dez vezes, nós vamos fazer. E vamos insistir com as escolas também. Precisamos caminhar juntos num mesmo caminho”, completa.
Propósito de vida
A história da Fortini se mistura com a de sua fundadora Maiara Wenceslau, que hoje tem como propósito de vida o crescimento da instituição.
Ela afirma que, quando criança, encontrou na escola um lugar de segurança. E garante que a Fortini tem esse mesmo significado para muitas crianças. “Aqui, a gente trata tudo com muito cuidado e responsabilidade. Para além das oficinas, a Fortini é lugar de fazer novas amizades, de falar como pensa. Não é sobre limites. É sobre sonhar juntos. E no sonho tudo é seguro, tudo é possível”, diz.
Maiara acredita que sua trajetória de vida vitoriosa só foi possível devido ao encontro com o projeto social. Com o objetivo de devolver à comunidade tudo aquilo que conseguiu aprender, ela almeja o máximo de transformação para os jovens.
“A Fortini não existe para limitar seus participantes. As atividades ofertadas não são consideradas como atividade fim. Nossa intenção não é formar professores de educação física ou tenistas e judocas. Nós pretendemos dar a eles as ferramentas para que eles desenvolvam o pleno potencial”.
Futuro
De acordo com dados levantados pela Fortini, em 2020, a RMBH contabilizava mais de 1.235 escolas públicas. Diante dessa informação, a equipe técnica da instituição percebeu a necessidade de ampliação do projeto para que pudesse atender mais jovens.
Maiara Wenceslau conta que existem duas grandes metas. A primeira delas é atender, até 2025, duas mil crianças diretamente. “Para isso, precisamos alcançar a diversificação do número de apoiadores para suportar o crescimento de forma sustentável”, reforça.
O segundo alvo consiste em dar continuidade às oficinas e também ampliar as modalidades esportivas e inserir oficinas culturais. “Em agosto, tem início a oficina de beach tennis e, em 2023, as oficinas culturais, com o retorno do coral”.
“Sabemos que o Brasil tem muitos desafios sociais e educacionais, mas nós não vamos cruzar os nossos braços. Nosso foco é formar grandes cidadãos”, conclui.