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Contagem completa 110 anos de emancipação no dia 30 de agosto de 2021: conheça sua história
Por Camila Martucheli
Fotos: Acervo Casa da Cultura
Obras de Arte:
Fernando Perdigão
Rua Dr. Cassiano- (Centro
Contagem-1937)
Você sabe a origem do nome Contagem?
E por que a cidade é conhecida como Contagem das Abóboras?
Quem fundou Contagem? Por que ela tem apenas 110
de fundação, sendo que os primeiros povoados
existem desde o século XVIII?
Contagem comemora seus 110 anos, com muitos desafios,
conquistas e uma história que, até os dias de hoje, ainda não
foi totalmente esclarecida. O início de nossa cidade é um tema
que gera divergências entre historiadores.
Primeiramente, começamos com a origem do nome.
Acredita-se que Contagem vem dos registros de ‘contages’;
e um específico estava localizado às margens
do Ribeirão Abóboras, no então arraial de Sam Gonçalo
(em homenagem ao santo português). Assim, “Sam Gonçalo
da Contage das Abóboras” foi o primeiro nome dado
ao que viria ser no futuro a cidade de Contagem.
Camaristas
As várias versões de como tudo começou
O início dessa história, de acordo com a versão do padre Joaquim Diniz, remonta a confecção da primeira imagem de São Gonçalo, datada de 1725, como consta a inscrição no cajado: “De São Gonçalo da Contage. Feito em dezembro de 1725 – 30 oitavas”. As ‘30 oitavas’ teria sido o valor pago pela construção da imagem, hoje exposta na Matriz de São Gonçalo.
No entanto, não há dados sobre quando o distrito foi criado, uma vez que a primeira escritura pública lançada no Cartório de Paz de Contagem é datada de 1845. Mesmo assim, para o padre Joaquim Diniz, em 1925, Contagem comemorou seu bicentenário, ou seja, a cidade estaria caminhando para o seu tricentenário.
Ainda segundo o padre, durante muito tempo, Contagem foi denominada de modo errôneo de Contagem ‘dos’ Abóboras e não ‘das’ Abóboras. Acredita-se que seus primeiros habitantes e fundadores usavam a alcunha ‘Abóboras’ – nome até hoje conservado numa das mais importantes e antigas fazendas do município. Conta-se que, em 1808, os ‘Senhores Abóboras’ obtiveram da Santa Sé um breve pontifício, criando nessa freguesia um Jubileu de Nossa Senhora das Dores.
Porém, contrariando essa versão dos fatos, o historiador Geraldo Fonseca afirma que, em pesquisa realizada junto ao Arquivo Público Mineiro foram encontrados lançamentos encabeçados com os nomes dos contribuintes, mas que por mais de 150 anos de anotações, não consta o sobrenome Abóbora.
“Ou os pretensos Abóboras eram sonegadores contumazes, ou então – a bem da verdade – isto é lenda”, pontuou Fonseca.
Já a “Enciclopédia dos Municípios Brasileiros”, editada em 1958 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), faz o seguinte registro sobre a história da fundação da cidade: “Na história do povoamento do oeste de Minas, tem a cidade de Contagem sua fundação calculada em mais de dois séculos”. Ainda segundo o documento do IBGE, Contagem era contígua ao arranchamento de Betim Pais Leme, cunhado de Fernão Dias que, estabelecendo-se na atual cidade de Betim, fazia suas explorações no entorno. No entanto, tal versão também é contestada pelo historiador Fonseca.
Rua da Direita
(Casa de Cultura)
“Contagem não se inclui na história do povoamento do oeste mineiro e Fernão Dias jamais teve cunhado chamado Betim pais Leme. Caso os coordenadores do IBGE se refiram ao pressuposto fundador de Betim, seu nome era Joseph Rodrigues Betim”, registrou.
Outra versão para os fatos diz que, por volta de 1975, o baiano de nascimento Régulo e Capitão-Mor Sebastião Corrêa teria sido o responsável pelo início do povoamento da região. Corrêa teria sido fidalgo e foi agraciado pelo Rei de Portugal D. João V, em recompensa aos relevantes serviços prestados à Coroa Portuguesa, com a doação de sesmaria que, posteriormente, denominou-se das “Abóboras”, pelo fato de as terras serem apropriadas à produção de abóboras e outros legumes.
Ele, então, construiu a Fazenda das Abóboras como centro de sua sesmaria, o que deu origem ao município de Contagem. O ribeirão principal do município teria o seu nome, em homenagem à sua memória, o mesmo ocorrendo com uma lagoa. No entanto, não há qualquer indicação de qual seria o curso d’água e onde ficaria a lagoa. Além disso, segundo o historiador Fonseca, “nunca existiu, em toda Minas Gerais, sesmeiro algum chamado Sebastião Corrêa”. Isto pode ser comprovado, segundo ele, pelos documentos do Arquivo Público Mineiro que registra, fichados por ordem alfabética, a relação de todos os sesmeiros e, respectivamente, as cartas de sesmarias de 1711.
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Restauração da
(Casa de Cultura)
O início de Contagem: da criação e o fim do Registro
Ainda que raros, de acordo com poucos registros históricos, pode-se dizer que Contagem começou a ser povoada no início do século XVIII, com o surgimento dos caminhos dos currais da Bahia até as minas. Em 1711 foi criada a Vila de Nossa Senhora da Conceição – chamada mais tarde de Sabará – em cujo território estava compreendida a região das Abóboras. Até por volta de 1715, o município sabarense praticamente não possuía recursos, o que levou o então governador D. Braz Balthazar da Silveira a instalar os registros e contagens, administrados pelos municípios.
Estrategicamente, a contagem e o registro das minas do Rio das Velhas foram instalados na região das Abóboras, assim conhecida em razão de por ali passar o ribeirão de mesmo nome. O funcionamento do Registro começou em 9 de agosto de 1716, como comprova documentos avulsos encontrados na coletânea da Biblioteca Nacional – Código I – 10,8. Além de confirmar a data, esses documentos registram uma notável relação de cargas e negros que passaram pelo local em curto período.
“Número das cargas e negros que tem entrado para todas as minas pelo Registro das Abóboras que deram fiança nesta Vila, como consta do Livro das Entradas 1º da folha 25 até a última. A primeira estrada, depois de se por o Registro, foi a 9 de agosto de 1716 (…)”.
No Registro das Abóboras, um dos últimos arquivos com os lançamentos de pessoas, ouro em pó e em barra, gados, entre outros está datado de 1751. Por ordem de Lisboa (Portugal), o contrato do Registro das Abóboras foi encerrado em 1759.
Emancipação de Contagem
Se por um lado, os registros históricos não apontam de maneira conclusiva quem foram os fundadores de Contagem. “Contagem não teve fundadores”, afirma de forma veemente, o historiador Geraldo Fonseca. A emancipação marcou o nome do emancipacionista e um dos responsáveis pelo Movimento Separatista, Coronel Augusto Camargos, como o primeiro presidente da Câmara de Contagem, logo após a instalação do município de Contagem.
Estação Bernardo Monteiro
Estacao Bernardo Monteiro
(Acervo Museu Imperial de Petropolis)
Por cerca de 200 anos, de 1701 a 1901, Contagem pertenceu a Sabará. A evolução natural que levaria à futura emancipação começou com a chegada de novos moradores, elevando o pequeno povoado à condição de arraial e depois de distrito.
Em 1834, a Câmara de Sabará solicitou à Presidência da Província a criação de duas vilas, com território desmembrado de seu município: uma em Santa Quitéria, outra em Santa Luzia. Em 29 de agosto de 1834, o então presidente da Província, João Baptista de Figueiredo, criou o distrito eleitoral na Freguesia de Santa Quitéria, que atendia a um abaixo-assinado de eleitores de Santa Quitéria, Mateus Leme e Capela Nova de Betim. Contagem ficou de fora, ou seja, não foi contemplada como distrito eleitoral.
Somente em 8 de julho de 1891, em sessão da Câmara dos Deputados, o deputado Ferreira Mello entrou com representação do povo do Arraial de Santa Quitéria pedindo a elevação do distrito a Vila, desmembrada de Sabará. Nessa representação constava os distritos que comporiam o município, incluindo Contagem.
A tramitação do projeto foi rápida e, em 16 de setembro de 1901, a Lei nº 319 criava o município de Santa Quitéria (atual Esmeraldas). Com a instalação da capital na Cidade de Minas (nome que antecedeu o de Belo Horizonte) Contagem, já desmembrada de Sabará, e na condição de renegada, nada pode fazer, passando a integrar o município de Santa Quitéria. No entanto, os líderes contagenses jamais se subjugaram ao recém criado município e seu legislativo.
Av. João César de Oliveira
Finalmente, em 30 de agosto de 1911, por meio da Lei nº 556, Contagem estava listada entre os municípios emancipados. O território compreendia o distrito-sede, Campanha (formado com uma parte do distrito de Venda Nova), Vera Cruz e Vargem do Pantana (atual Ibirité).
Apesar da emancipação, Contagem não ganhou total autonomia pois, de acordo com o artigo 16 da lei de emancipação era preciso a instalação de vários equipamentos na cidade, como logradouros, cemitérios e edifícios públicos para sediar a corporação administrativa, os institutos de ensino primário e as cadeias. Por isso, muita coisa continuou como estava e as chacotas dirigidas aos emancipacionistas não demoraram a acontecer. Até que, em 31 de março de 1912, após a realização das primeiras eleições para a composição das câmaras, o município de Contagem foi instalado em 1º de junho do mesmo ano.
Autonomia cassada
Ressalta-se que apensar de Contagem celebrar 110 anos de emancipação política, durante 10 anos o município foi rebaixado a distrito de Betim. A história por trás disso é controversa e muito interessante.
Conta-se que numa manhã de 1938, o governador Benedicto Valadares telegrafou ao prefeito de Contagem José da Rocha Cunha dizendo que, na quinta-feira próxima, às 13 horas, estaria na estação do Bernardo Monteiro, onde permaneceria por 30 minutos, antes de passar rapidamente por Betim, então distrito de Contagem, em direção a Pará de Minas, sua terra natal. O prefeito não tomou qualquer conhecimento e quando o trem chegou, só havia o chefe da estação para receber o governador.
Revoltado, Benedicto Valadares ordenou que o trem seguisse para Betim, onde foi recebido com festa, banda de música, escolares e populares, lá permanecendo quase uma hora. O governador passou o final de semana em Pará de Minas, mas não esqueceu da ofensa. Na segunda-feira, durante o programa noturno de rádio “Hora do Brasil”, ele anunciou a destituição de Contagem como município, por meio de um decreto, rebaixando-o a condição de distrito de Betim, que foi elevada à cidade naquele mesmo dia.
Outra versão para a perda da autonomia considera que o rebaixamento foi uma artimanha tendo em vista a desvalorização dos terrenos da região. Isso facilitaria a aquisição de terras pelas empresas interessadas na construção da futura Cidade Industrial, já em andamento.
Essa situação perdurou até 1948, quando Contagem recuperou sua autonomia amparada pela Lei 336, de 27 de dezembro daquele ano.
Praça da Cemig /Cidade Industria