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Como serão os espaços pós-pandemia
- Arquitetura e Decoração
- VivaOnline
- 14 de outubro de 2020
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Escolas, trabalho, casa, lojas. Quem nunca pensou como ficará esses locais depois da pandemia? Arquitetos e designers pensaram e mostram para gente o que eles imaginam para o futuro próximo
Todo grande trauma traz grandes mudanças. Basta lembramos, por exemplo, da peste negra que, coincidentemente, teve origem no continente Chinês e se alastrou pela Europa, a princípio, por meio de ratos e pelas precárias condições de higiene e habitação que davam aos roedores o cenário ideal para procriarem e causarem centenas de milhões de morte. Isso motivou o desenvolvimento do saneamento básico nas cidades e vilas medievais mudando a realidade desses locais e trazendo mais saúde e bem-estar as pessoas.
Num episódio mais recente da nossa história, tivemos a crise hídrica, que se tornou mais grave a partir de 2014, e que fez com que a maioria das pessoas deixassem de lavar as calçadas com água.
Esses são apenas dois casos e de vários outros que mostram que estruturas e hábitos mudam quando o que está em jogo são vidas. É muito pertinente pensar que com o a pandemia do Coronavirus que, em setembro de 2020 já matou mais de 133 mil pessoas só no Brasil, não será diferente. mas quais seriam essas mudanças?
Para responder essa angustia que assola todos aqueles que querem abrir seu negócio, construir sua casa ou desejam trazer mais segurança para seus alunos, nós convidamos arquitetos e designers a pensarem no futuro e trazer soluções no presente levando em conta todo o aprendizado dado pela pandemia do Covid-19.
Instituições de Ensino
Já vivemos divididos em relações reais e virtuais e o âmbito escolar terá que integrar, também, estes dois mundos. Segundo o arquiteto Henrique Hoffman, do escritório Painel Arquiteto Associados, estes novos espaços serão projetados com uma reconfiguração que possibilite essa comunicação bilateral ao mesmo tempo e de forma integrada. “As instituições precisarão adaptar o ensino para serem bem-sucedidas nessa produção de um processo de aprendizado atraente de forma on-line e, junto a essa mudança, acompanhar a questão espacial por uma arquitetura que, assim como os novos meios eletrônicos, não crie barreiras e limites e responda aos novos padrões de convívio social”, avalia Henrique.
A arquitetura precisa ser cada vez mais fluida, contínua, aberta, integrada e que conecte todas as partes possibilitando uma flexibilização do espaço e uma adaptabilidade às necessidades inerentes a cada momento onde os estudantes se apropriem do espaço de diferentes maneiras e conforme os novos padrões de distanciamento. “A sala de aula, da maneira como conhecemos, limita os estudantes a um espaço fechado e introspectivo que não responde de maneira única a essas novas exigências comportamentais e ambientais. A concepção de espaços fluidos e flexíveis serão fundamentais nessa incorporação de novos ambientes de ensino. Nós, arquitetos, precisamos conceber tais pontos: espaços que se adaptem a diferentes usos; espaços que integrem as diferentes modalidades de ensino; Espaços que flexibilizem o uso de um variado número de pessoas; espaços de estudo integrados aos espaços externos; espaços que possibilitem uma melhor relação com o lugar”, explica Henrique Hoffman.
Alguns pontos deverão ser levados em conta para a projeção destes novos espaços, tais como uma maior incidência solar nos horários e estações condizentes, maior índice de ventilação cruzada no local e uma troca passiva com o ambiente externo sem o uso constante do ar condicionado. “A recomendação principal é priorizar ambientes onde haja uma ventilação natural e uma troca passiva entre os ambientes educacionais.
A importância dessa ventilação cruzada e natural é a limpeza do ar confinado no ambiente e superfícies dos revestimentos dentro de uma sala de aula. É claro que para alcançar resultados eficientes, os elementos de aberturas (portas, janelas, venezianas …) devem ser utilizados adequadamente”, avalia Henrique Hoffman.
Já em relação à higienização, o arquiteto ressalta que os espaços de permanência transitória e prolongado dentro dos campi educacionais serão adequados à nova realidade em que vivemos. “Precisamos compatibilizar a arquitetura com a nova infraestrutura de assepsia. Essa adequação deve ser feita em cada sala de aula com a instalação de um suporte de higienização bem posicionado e constantemente em reposição. Além disso, precisamos criar novos espaços para algo em maior escala, na entrada dos campi, na entrada de cada prédio e setor. A Painel estuda a criação de novos pórticos, em diferentes escalas e materiais que possibilitam a rápida e efetiva medida de desinfecção dos alunos e funcionários”, explica Henrique Hoffman.
Residências
Segundo os arquitetos Alberto Dávila, Afonso Walace e Cadu Rocha, do escritório Dávila Arquitetura, o futuro das novas moradias perpassa por três premissas principais: aproveitar melhor a natureza; valorizar a higiene e viabilizar o trabalho. Tudo pensando na saúde, bem-estar e sucesso profissional dos moradores.
O melhor aproveitamento da natureza se mescla à tendência irreversível da sustentabilidade e favorece o bem-estar e a saúde dos moradores. A incidência solar e a ventilação natural, especialmente, são exemplos dos proveitos que podemos obter, gratuitamente, com mínimo impacto no meio ambiente.
“Uma iniciativa importante é recriar os solários, espaços onde se possa tomar sol e ar, dentro de casa. E podem ser configurados na própria varanda. No entanto, é necessário favorecer a iluminação e ventilação naturais dos ambientes, dos dormitórios às áreas sociais e às áreas de serviço. O sol é um ‘desinfetante’ natural e poderoso, que pode atuar como coadjuvante na esterilização de roupas e objetos. A ventilação natural, se possível cruzada (janelas em lados opostos da planta do apartamento, para favorecer a circulação de ar) é imensamente mais benéfica do que a artificial ou condicionada, ainda mais que esta última corre o risco de acumular germes. Para a ventilação natural, janelas, venezianas e basculantes fazem seu papel”, indicam.
É importante pensarmos, também, nos aspectos psicológicos dos moradores e uma boa pedida para relaxar é a inserção do verde nas residências. “A cor verde, por si só, já traz tranquilidade, especialmente em tons mais suaves, mas podemos expandir bastante este conceito, trazendo, literalmente, vegetação, ou espaços-verdes para dentro das casas e, principalmente, apartamentos, onde não são tão comuns. Isto pode ser nas varandas e terraços, através de vasos ou paredes verdes, ou ainda através de jardineiras nas janelas”, citam os arquitetos.
Sobre a valorização da higiene, essa se dá por meio de medidas que devem ser praticadas dentro e fora de casa. No âmbito doméstico, uma destas práticas é a disponibilização de um lavabo bem próximo à área de refeição. Ele é importante para lembrar e estimular as pessoas a lavar as mãos antes de comer, o que evita a contaminação dos alimentos. Já em relação à entrada do apartamento, seja a social ou de serviço, que são áreas de transição de toda residência, cuidados especiais podem ser tomados daqui para frente.
“Notamos, na pandemia, que espaços para uma “mini quarentena “de objetos trazidos da rua são muito bem-vindos. As compras de supermercado, por exemplo. Seria interessante uma despensa, um armário ou bancada específicos para a disposição destes objetos enquanto aguardam a desinfecção. É importante que este espaço resista a produtos químicos como álcool, água sanitária e desinfetantes, ou até mesmo gases como o ozônio (sobre o qual há notícias de que pode ser um eficiente desinfetante natural) ”, ressaltam os arquitetos da Dávila.
Deve-se salientar, também, dos tão necessários espaços para depositar os sapatos, que podem ficar dispostos em estantes e/ou sapateiras apropriadas à entrada da residência. Os arquitetos explicam que um lado bastante positivo desta prática de não se entrar com os sapatos em casa, é que os pisos internos da residência podem ser pensados para serem mais confortáveis e delicados, uma vez que dispensarão uma limpeza pesada, por não estarem sendo contaminados e sujos cotidianamente.
Ao falarem de viabilização do trabalho, Alberto Dávila, Afonso Walace e Cadu Rocha ressaltam que um dos desafios que a pandemia impôs, de forma muito contundente e acelerada à grande parte da população, foi a de trabalhar remotamente, ou seja, em casa. E ao que tudo indica, o home office veio para ficar. E, de acordo com os profissionais, uma das grandes dificuldades deste tipo de trabalho é justamente o fato de estarmos em casa. Além de oferecer distrações e tentações, também envolve afazeres domésticos que têm que ser conciliados com o trabalho da empresa.
“Com a integração de espaços, os ambientes de uso único foram sendo eliminados em favor de uma maior interatividade entre os usos. Isto não necessariamente favorece o trabalho quando temos que fazê-lo em casa. A solução talvez esteja em escritórios mais próximos à entrada da residência, quiçá com entrada independente – como acontecia em casas desde o período colonial brasileiro, até meados do século XX. Se há mais de um morador que precise trabalhar remotamente, deve existir uma combinação de soluções: quem precisa de algum contato externo ou uma estrutura mais bem montada, fica com o escritório oficial. Os demais teriam outros escritórios opcionais instalados em outros espaços da residência, comumente os dormitórios, o que demanda eles tenham que ser pensados para admitir um espaço de home office em seu layout”, apontam.
No projetado elaborado pelos profissionais, eles incorporaram ideias bastante interessantes, ainda não vistas em outros lugares, como o que eles chamam de Multihall, um vestíbulo privado da residência que integra tudo na casa, incluindo o escritório independente para home office, que é conversível à suíte.
“O Multihall dispõe de um lavabo completo, que é ao mesmo tempo o banheiro do escritório/suíte. Este é o espaço de desinfecção, troca de sapatos, roupas e quarentena de objetos. Pensamos num jogo de portas que deslizam e que revelam um aparador, o que faria o Multihall parecer um lavabo comum, mas que movimentadas, revelam os equipamentos para higiene, desinfecção e armários e estantes para guardar a tralha toda. E movimentadas, estas portas também revelam o setor social da casa.
Enfim, tentamos fugir do óbvio e do lugar comum”, pontuam.
Lojas
As designers Cris Araújo e Linda Martins, do escritório Maraú Design Studio, acreditam que forma como as lojas se relacionam com o cliente e a forma como compramos certamente mudará após esse período de quarentena.
“Pensando em tudo isso, tomamos partido de um projeto já entregue por nós no passado, para exemplificar como serão os atendimentos em lojas físicas após o Covid-19. A loja, que anteriormente possuía apenas uma porta de entrada e saída, teve sua vitrine reduzida e recebeu uma nova porta, para facilitar o fluxo. O cliente entra por uma porta e sai por outra”, relatam.
As modificações no estabelecimento também foram feitas do lado de fora, onde a fachada recebeu um toldo para o caso de os clientes precisarem esperar e, assim, evitar aglomerações no interior do estabelecimento.
“Nessa nova versão, retiramos todo mobiliário e detalhes estofados e substituímos por materiais que possam ser esterilizados com álcool líquido. O uniforme dos atendentes também precisa estar de acordo com essa nova realidade: luvas, avental, máscara de tecido e de acrílico, são imprescindíveis para a proteção dos colaboradores”, pontuam Cris Araújo e Linda Martins.
Na pós pandemia, o comércio precisará de novas dinâmicas para manter as portas abertas e continuar com sua clientela de forma segura e higiênica. Assim, a profissionais ressaltam uma nova dinâmica, como um passo a passo, que deverá ser seguido por todos.
“Ao entrar no ambiente, o cliente utiliza o espaço logo ao lado da porta para higiene e proteção pessoais. Coloca protetor de pés, passa álcool gel e retira uma máscara caso necessite. Se dirige ao atendimento, que pode ser dentro de uma das cabines em acrílico ou no balcão. No momento de fazer o pagamento, deve respeitar o espaço demarcado para afastamento e, ao sair da loja, descarta os artigos de proteção no lixo ao lado da porta”, explicam.
Após a permanência do cliente dentro do estabelecimento, é a vez dos funcionários fazerem o seu papel. Aplicam álcool líquido 70% com borrifador em todos os móveis que foram usados durante o atendimento.
Para as designers, o mais importante é ter ao lado um profissional que projete o estabelecimento dentro das normas sanitárias, trazendo para seus clientes um ambiente, além de atrativo, também seguro.
“Projetar com um profissional é muito importante, para que a loja esteja de acordo com todas as normas de segurança da OMS, sem perder a essência do projeto e da marca”, salientam Cris Araújo e Linda Martins.
Trabalho
O prefeito da capital paulista, Bruno Covas, publicou no diário oficial da cidade, no dia 15 de setembro de 2020, um decreto que institui o regime permanente de teletrabalho nos órgãos da administração direta, autarquias e fundações do Município de São Paulo. Com essa ação, em seis/sete anos, a prefeitura prevê uma economia de R$ 1 bilhão.
Em Belo Horizonte, muitos escritórios já estão adotando um sistema de trabalho híbrido, que mescla trabalho em casa (três ou duas vezes na semana) e no escritório (uma ou duas vezes na semana). “O fato é que home office é uma realidade que não vai mudar depois do fim da pandemia. E, diante disso, se antes esse espaço era criado apenas como uma base de apoio, agora ele se torna um ambiente fixo, assim como é a sala ou quartos, e precisa ser construído de maneira a garantir, entre outras coisas, a ergonomia e bem-estar de quem o usufrui”, explica Maria Fernanda Oliveira, arquiteta do Estúdio 4 Soluções em Arquitetura.
Para isso, a profissional indica três itens fundamentais para se ter em um espaço de trabalho em casa. “Para um bom funcionamento de um home office é importante se ter uma boa cadeira ergonômica, mesas na altura certa ,compatíveis com a cadeira e ter tudo a mão: tomada de fácil acesso, impressora , área livre para livros e outros utensílios de uso diário para a atividade”, salienta a arquiteta.
Evidentemente, nem todos os trabalhos podem ser feitos em sistema home office e, para essas atividades, os escritórios precisarão se adaptar. “A implantação de divisórias, que muitos edifícios já usam para separar mesas em escritórios, para atuarem como barreiras, seja de plástico, vidro ou as tradicionais de PVC, além de aumentar o distanciamento entre as mesas serão itens que devem permanecer. Isso porque esses são itens que impedem a contaminação de qualquer tipo de vírus, garantindo a saúde do trabalhador. A ventilação natural também é importante isso porque quanto maior a dissipação do ar, menores as chances de que vírus permaneçam no ambiente, lembrando que, o uso de ar-condicionado não ajuda neste controle, ele apenas circula o ar que pode já estar infectado”, explica Henrique Hoffman, da Painel Arquitetos Associados.
Em relação aos intervalos, o ideal é dividir os grupos de funcionários para cada pausa, além de manter o distanciamento em refeitórios, assim como a entrada e saída do edifício. “Com relação as salas de reunião, elas devem também haver maior distanciamento entre as cadeiras e a utilização da tecnologia necessária, como televisões e computadores, para que quem está em casa também possa participar”, pontua Henrique.
Os setores da arquitetura, construção e design já trabalham em cima daquilo que muitos estão chamando de o “novo normal”. Sua casa e/ou negócio está preparado para essa nova realidade?