Lu Mattos apresenta seu universo “Poptrópicosfera” em show que exalta a diversidade musical
A PEDRA
Pense num texto de um grande poeta. Nele lemos que no caminho havia uma pedra. O texto possui versos e estrofes e, pela estrutura e forma chamamos de poema. Esta simples pedra mudou o seu significado quando foi parar no meio do caminho.
A palavra pedra, antes de se transformar no símbolo, que encanta e provoca tantas discussões entre os leitores era apenas um substantivo feminino, concreto, simples, comum, que significa substancia dura e compacta que forma as rochas. E dependendo da frase poderia ocupar a função de sujeito ou objeto, ainda sem muita importância.
Porém, o poeta a captura para o seu texto mergulhando-a em um mundo de aventuras. Provavelmente outras palavras tentaram ocupar o seu lugar, mas não caíram na graça do autor. Ou simplesmente se recusaram a obstruir o caminho dos leitores, pois não é fácil se envolver no desconhecido naquela jornada de versos e estrofes.
Atendendo ao chamado do autor lá se encontra ela: a Pedra. De simples e comum tem uma mudança no seu significado. Não é mais uma rocha dura e compacta. Nos versos, deste determinado texto, pode assumir formas, pode ser maleável. Pode inclusive ser abstrata, pode até não existir.
A pedra no caminho de várias pessoas, leitoras, testa seus limites e convida a reflexão. Transformada, já não possui um significado, mas muitos. Recompensada sai dos seus domínios transformada. Será heroína de muitas histórias com a possibilidade de ser vencida, de representar a vitória para alguns ou a desistência de outros. Vitória quando o leitor consegue superar e seguir em direção ao seu destino. Derrota quando o leitor desiste de vencê-la e segue outro caminho, mais fácil e sem a pedra.
A vida é assim, um dia encontramos uma pedra no meio do caminho. Superamos a pedra e vencemos, ou tomamos outro caminho e perdemos a chance de aprender.
E no percurso desta simples palavra, antes presa no dicionário, agora ampliada pela mente do autor e dos leitores, percebemos a recompensa de se aventurar e se doar.
Antes que esqueça, o poema que transformou a pedra é “No Meio do Caminho” do mineiro Carlos Drummond de Andrade. Mas esta é outra história.