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Casa de Cacos: 60 anos de histórias, vivências e experiências
- Patrimônio
- VivaOnline
- 31 de outubro de 2023
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A Casa de Cacos, no dia 11 de agosto, completou 60 anos. Para celebrar a data, um evento foi montado pela Prefeitura de Contagem, coordenado pela Secretaria Municipal de Cultura de Contagem, contando com show, exposição e até um bolo. Afinal, dentro deste mosaico a céu aberto, único no Brasil, o momento não poderia passar em branco.
Quem esteve presente e nunca havia frequentado a casa, se encantou. Quem revisou o local, igualmente. Afinal, há todo um simbolismo em cada canto, cômodo ou detalhe da casa. Tanto durante o dia, quanto à noite, a curiosidade se aflora, as perguntas se acumulam e as respostas deixam os visitantes com olhos e ouvidos fixados.
Na comemoração da data especial, não foi surpresa membros da mesma família interagirem sobre momentos na casa. Caso, por exemplo, da conversa entre a engenheira de produção, Fernanda Martins e seu filho, Daniel. Enquanto ela contava sobre sua história com o lugar, o filho ficou observando. Certa hora ele exclamou: “Você conhece tudo sobre a casa, né, mãe?”. Sorrindo, ela lembrou, emocionada, de quando ela tinha a idade atual de seu filho. “Eu era uma criança de 7, 8 anos, que quando passava aqui em frente eu entrava e ficava maravilhada. Eu e meus dois irmãos. Ao entrar aqui, sinto o gosto da infância, saudosista, de tudo que vivenciamos aqui”, contou.
O sentimento dela é o mesmo de muitos que visitam o local, aberto de terça-feira a sábado, das 9h às 17h e, aos domingos, de 9h às 13h. O professor Ailton Leite, autor do livro “Meu Bernardo Monteiro”, é um destes casos. Ele lembra, com carinho, dos momentos de décadas atrás, quando frequentava a Casa de Cacos. “Tenho muitas lembranças positivas. Sempre que era possível trazíamos ao ‘Seu Carlos’, alguns cacos de louça. Em troca ele nos dava material escolar e, de certa forma, acabamos nos tornando parte da construção desse lugar”, contou.
A artista Lenna Santos, atualmente gerente do lugar, também tem na mente diversas histórias com a Casa de Cacos. “Cheguei em Contagem com quatro anos e sempre morei no Bernardo Monteiro. Então a vivência com a casa é desde sempre. Foram várias brincadeiras, interações, sorrisos e experiências por aqui”, relatou. “Como éramos crianças, havia toda uma magia envolvida. O Seu Carlos nos fazia acreditar que falávamos com a Fifi (elefante de cacos que fica na lateral da casa e que possui interior oco, onde uma criança entrava e falava com os visitantes), víamos ele vestido com um blazer de cacos, o mesmo que ele foi, posteriormente, a programas famosos, como o Chacrinha, além de vermos a casa sendo construída pouco a pouco”, completou.
E nesses 60 anos de início da Casa de Cacos, muitos são os relatos de visitantes quanto ao local. Um dos coordenadores da Casa, Lúcio Honorato, fala com entusiasmo das conversas que tem com as pessoas que revisitam a Casa. “Há história que sabemos e outras que são contadas. A Casa de Cacos não é apenas única quanto à sua forma, sua estrutura, sua beleza. É única pois é parte da vida de muitas pessoas. Antigamente pessoas vinham de longe para conhecer esse mosaico criado na década de 1960. Outras fizeram parte da construção de tudo ou, ainda, vivenciaram diversos momentos da formatação da ideia”, ressaltou.
O que poucas pessoas não sabem, no entanto, é a origem da montagem da casa. A revelação foi feita pela filha de Seu Carlos, no final do ano passado. De acordo com ela, costumeiramente havia festas familiares. Sua mãe, Aristolina, fazia doces maravilhosos, um deles, um doce de leite em uma forma de metal em formato de carneiro, cujo sabor até hoje traz saudade.
De acordo com Maria Inês, toda a ideia começou quando ela carregava as louças de uma destas festas para a cozinha. Num descuido, ela tropeçou e tudo acabou se transformando em cacos. Naquele momento, Seu Carlos disse que nada se perderia. Levou os cacos para sua “casa de campo” e revestiu o banheiro. Gostou do resultado, foi elogiado e passou ao alpendre. Tempos depois, aquilo acabou virando uma meta de vida e, ao mesmo tempo, mobilizou os vizinhos. Os cacos do tropeço de Maria Inês, assim, foram multiplicados, a ideia foi crescendo e o resultado está à disposição da população de Contagem e turistas em geral desde sua revitalização, que durou cerca de 480 dias.
Patrimônio municipal de Contagem, a Casa de Cacos é um bem público, pertencente à Prefeitura desde 1991, quando foi adquirida. Fechada em 2005 por questões de segurança, foi reinaugurada em 27 de agosto de 2022, como parte da programação pelos 111 anos de Contagem. Naquela data, a prefeita Marília Campos destacou que “entregá-la completamente restaurada, é uma forma de resgatar a identidade cultural da cidade, fomentar o turismo e a capacidade de criar e de se encantar com a arte”. Desde então recebeu diversos eventos como a Noite Mineira de Museus e Bibliotecas, exposições, oficinas e shows.