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Ivan Chagas: Um olhar diferenciado para a produção cultural.
- Arte e Cultura
- VivaOnline
- 11 de julho de 2023
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Por Ivana Andrade
Em meio à efervescente cena cultural mineira, Ivan Chagas é um dos produtores mais atuantes do setor, principalmente em Belo Horizonte. Sua trajetória na área, desde a década de 80, é repleta de histórias marcantes que serão apresentadas, a partir de agora, na Revista Viva Grande BH. Ele vai integrar à equipe de colunistas, e terá como missão abordar temas interessantes com base em sua vivência profissional. “Sinto-me lisonjeado pelo convite. Será um prazer contribuir com a revista”, disse.
Com certeza, assuntos não faltarão. Ao chegar em sua residência para a entrevista, Chagas me mostrou pilhas de pastas com clippings, setlists de shows, desenhos feitos por artistas, autógrafos, adesivos de patrocinadores e parceiros, recortes de jornais e revistas com a divulgação de seus eventos ao longo de sua carreira, que já soma mais de 30 anos. O acervo é guardado com zelo e de forma, extremamente, organizada. Isso sem contar os inúmeros álbuns com fotografias antigas e raras de artistas e bandas, locais e nacionais com as quais teve ligação, como a Pouso Alto, primeira banda dos ex-integrantes do Skank, Samuel Rosa (voz e guitarra) e Henrique Portugal (teclado).
“Eu e o Samuel Rosa estudávamos no Pitágoras, em BH. Eu tinha 16 anos e ele 14 anos. Nós batíamos papo sobre música no corredor do colégio e, um dia, em 1982, ele me convidou para ver a apresentação deles no Parque das Mangabeiras. Eu fui e fiquei deslumbrado. Tocavam Beatles, Clube da Esquina e uma canção autoral que era uma comédia. A partir daí, fui acompanhando os ensaios e fortalecendo a amizade. Aí, virei o roadie da banda”, explicou.
De lá para cá, o ingresso ao universo da produção cultural ocorreu de forma natural, segundo Chagas. “A gente não nasce produtor, a gente se transforma em um”. De roadie da Pouso Alto, Ivan Chagas passou a empresariar bandas, produzir shows e trabalhar no setor de iluminação para eventos. Saudosista, ele relembrou a época em que trabalhou no extinto Cabaré Mineiro, que foi uma das maiores casas de espetáculos do Brasil. “A convite de Ramon Fiúza, passei a cuidar da iluminação de inúmeros shows da casa. Um deles foi de Baden Powell. No final da apresentação, a esposa dele veio até a mim e me chamou para ir ao camarim a pedido de Powell, que me elogiou pela iluminação.”
Projetos
De olhos atentos no mercado e em constante processo de inovação, Chagas sempre apresenta novidades. Por meio de sua empresa Sion Produções, já aprovou dezenas de projetos por meio de editais de leis de incentivo à cultura, desde 1998, como o tradicional Buena Vista Soul, Jazz & Blues Festival, realizado em BH, Sete Lagoas, Betim, Contagem e Pirapora, traz surpresas a cada edição. “Esse festival itinerante é um sucesso. Já chegamos a 31ª edição. O intuito é valorizar os artistas locais. Mais de 300 já se apresentaram em nossos palcos”, disse.
E mesmo durante a pandemia, o produtor se manteve ativo por meio de realizações de lives que foram transmitidas no canal da Sion Produções no YouTube. Foram os casos dos festivais Reggae Horizonte, Mao Sessions e do Buena Vista Soul, Jazz & Blues Festival que, juntos, tiveram mais de 20 mil visualizações na rede social. Entre os artistas que participaram dos projetos estão: Chico Lobo, Aldrin Gandra, Keyroga & Banda Kalimba, Alexandre da Mata & Black Dogs e muito mais.
Ao recordar a sua carreira até aqui, com suas conquistas e desafios, Ivan Chagas, 58, se considera um batalhador. Preza pela sinceridade e pela autenticidade. Sem se preocupar em ser polêmico por suas opiniões, fala o que pensa e o que precisa ser dito, principalmente sobre projeto de lei de incentivo, uma de suas especialidades nos campos da elaboração e gestão. Aliás, segundo ele, a desburocratização do processo é algo urgente e necessário. “Há muita complexidade. A gente gasta mais tempo no preenchimento das obrigações do formulário do que conceituando o projeto”.
Um dos grandes desafios da atualidade é a obtenção de patrocínio. “Tudo que se faz hoje fica muito caro. E muitas empresas não apoiam porque não tem conhecimento sobre as leis de incentivo à cultura. O patrocínio acontece no caso dos grandes eventos”. Ele explica, ainda, que muitas empresas investem apenas onde há interesse por parte delas.
Música
Ivan Chagas, que chegou a estudar Ciências Econômicas na PUC Minas, seguiu sua vocação e decidiu optar pela área cultural. Sob influência familiar, teve o contato com a música desde a infância. “A música sempre fez parte da minha vida. Meu pai tinha uma radiola e sempre tocava samba e outros ritmos. Hoje, ela está presente em todos os meus projetos. Inclusive, faço questão de ouvir todo tipo de música. Ouço todas as músicas que recebo de bandas e artistas. É dessa forma que descubro os talentos e os apresento para o público”.
E a musicalidade passou a integrar os projetos da Sion Produções desde o início. “Fiz o primeiro encontro de food trucks em Sete Lagoas, em 2017, pois estavam no auge. Mas, o público me cobrou a música. Então, eu arrumei uma banda para tocar no dia seguinte do evento. O resultado foi muito bom. Resolvi então fazer no mesmo ano um festival de jazz e blues, nascia o Buena Vista Soul, Jazz & Blues Festival”, relatou o produtor.
Como fonte de inspiração para elaboração de cada projeto, Chagas leva em consideração os shows internacionais que já assistiu presencialmente. Na lista gigantesca, há nomes como Al Jarreau, Dave Matthews Band, Bon Jovi, George Benson, Johny Winter, Maroon 5,Paul McCartney, Sepultura, Tears For Fears, entre outros.
Assim como a lista dos artistas inspiradores, a dos artistas que tiveram ligação profissional com Ivan Chagas, ao longo de sua carreira, também é grande. “Fui o primeiro a trazer a banda Tribo de Jah, em Belo Horizonte, onde produzi vários shows dela. Também fiz shows da Natvus, atual Natiruts, e fui chamado para empresariar a banda de heavy metal The Mist”.
Ao folhear os álbuns de fotos, o produtor relembra os momentos inesquecíveis do passado, como a produção de shows com as bandas Ira e Nenhum de Nós, além de Elpídio Bastos, baixista e diretor musical do Olodum e Arnaldo Brandão (Hanói-Hanói). “Também produzi os shows do J. Quest no início de carreira da banda. Eles estavam levantando recursos com os cachês para a gravação do primeiro CD”, ressaltou.
Chagas também produziu mais de 50 espetáculos para a trupe do Circo Irmãos Simões em Minas Gerais.
Ele se recorda, ainda, da época em que foi o produtor da exposição “A história do Rock Brasileiro em 1.000 discos”, de autoria do poeta Marcelo Dolabela. O restante das histórias e as novidades, como o Bloco Alegria Alegria que estreou no Carnaval 2023, poderão ser conferidas na estreia da coluna de Ivan Chagas na próxima edição.