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Entre poses como modelo e assentamento de tijolos, Chay Miguel ensina na prática o que é o empreendedorismo social
- Negócios e Empreendedorismo Responsabilidade Social
- VivaOnline
- 23 de setembro de 2020
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Cheyenne Pereira Miguel, ou simplesmente Chay Miguel, é uma moça de 31 anos, nascida e criada em Contagem e que há três anos reside na ocupação Paulo Freire no Barreiro. Militante há cinco anos em um movimento que luta por moradia, é mãe do pequeno Yan, de 10 anos, e tem construído sozinha a própria casa. Sim. Ela coloca a mão na massa e com o aprendizado que teve por meio o projeto Arquitetura na Periferia tem erguido sua morada e hoje ajuda outras mulheres a fazerem o mesmo. Além de tudo isso, Chay também é modelo fotográfica.
Filha de Rosemary das Graças Pereira e José Tarcísio Miguel, Chay é a quinta de sete irmãos, por isso desde pequena aprendeu os valores da solidariedade. “Minha mãe faleceu muito nova e nós tivemos que nos virarmos para sobreviver. Eu ainda ajudei a cuidar de dois irmãos mais novos, que hoje moram fora do país”, revela.
Ela estudou até completar o ensino médio e mesmo sem ter cursado uma faculdade, tornou-se empreendedora. Antes disso, nunca teve medo do trabalho, foi copeira, limpadora de vidros e vendedora. Hoje divide seu tempo entre os cliques como modelo e assentamento de tijolos e piso. Algo impensável para qualquer menina, não para Chay.
História de abusos e superação
Acreditando que viveria um sonho, Chay acabou se casando cedo, mas a vida conjugal se tornou um grande pesadelo. “Vivi um relacionamento extremamente abusivo, com agressões e se eu não tivesse tido forças para sair, hoje eu faria parte das estatísticas das mulheres vítimas de violência de gênero”, lamenta. Mas, há cinco anos ela conseguiu dar a volta por cima, está reconstruindo tudo que perdeu e, sozinha, cuida do filho.
Foi nesse turbilhão de acontecimentos que ela foi conheceu o Movimento de luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) do qual faz parte e se tornou coordenadora no bairro onde mora. “Nós lutamos por moradia e por muitas outras coisas também. Consegui meu cantinho e aos poucos vou levantando minha casinha”, conta com voz firme, porém serena.
Segundo Chay, o fato de ter saído de uma situação complicada em seu antigo relacionamento, no qual chegou a pensar que não iria sobreviver, acabou lhe dando forças para lutar e conquistar o seu espaço. “As minhas forças vem do meu filho e de Deus e quando consegui me reerguer, comecei a olhar para mim e foi então que me tornei modelo fotográfico”, revela.
Empreendedorismo na moda
Para ela, empreender é quando você acredita em algo e investe nisso, além de desenvolver o lado social, sem deixar de ser rentável. “Eu estava há tempos procurando emprego CLT e não conseguia uma colocação, então decidi empreender, trabalhando primeiramente a minha imagem. Com isso, em 2016 investi na minha carreira de modelo, também impactando outras meninas que passaram ou ainda passam por problemas semelhantes aos meus”, diz orgulhosa.
Destaca-se que Chay é fundadora, juntamente com o fotógrafo Márcio Black, do projeto ‘Pretas no Branco’, que tem como objetivo valorizar a mulher negra. “Assim, conseguimos dar visibilidade para muitas meninas, além de conquistarmos importantes parcerias. O projeto ainda nos permite a oportunidade de criar produtos e torná-los rentáveis. Eu, por exemplo, já produzo acessórios e estou estudando bastante o mercado, participando de palestra e pesquisando”, frisa.
Empreendedorismo na construção civil
Além de ser uma empreendedora da moda e de lutar à frente do MLB, Chay também faz parte do projeto Arquitetura na Periferia. “Como moradora da Ocupação Paulo Freire, conheci alunas antigas do projeto e com isso fiquei muito interessada. Estava sem dinheiro e precisava aprender algo. Fiquei maravilhada quando vi aquelas mulheres ensinando outras mulheres”, conta.
Como ela foi uma aluna aplicada, acabou recebendo o convite para integrar a equipe do projeto. “Eu já ensinei várias coisas e aprendo muitas outras. Já fiz e ensinei outras meninas como assentar piso, como obter ao ponto certo de uma massa, a maneira correta de assentar um tijolo”, revela com orgulho.
Em sua própria casa, foi Chay quem fez o piso do banheiro e da cozinha, até a parte elétrica foi ela quem providenciou. “O dinheiro vai entrando e eu vou fazendo”, completa, sorridente. Assim, como uma agente de mobilização no projeto Arquitetura na Periferia ela é a grande responsável por reunir as mulheres das ocupações Eliana Silva e Paulo Freira (Região do Barreiro) e realizar os primeiros encontros, além de ajudar a cuidar das finanças e da organização das oficinas e workshops.
Recentemente, Chay e as meninas do projeto atuaram fortemente pela resolução dos problemas causados pelas fortes chuvas que assolaram a região. “Tivemos que fazer várias intervenções em muitas casas, inclusive na minha. Uma vez que ainda lutamos para que a Copasa e a Cemig cheguem até nós, o projeto Arquitetura na Periferia é fundamental para que possamos seguir com nossos lares nas ocupações”, conclui.