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Javert Vivian Silva: nobreza e empatia. A história de um homem iluminado - Revista Viva Grande BH

Javert Vivian Silva: nobreza e empatia. A história de um homem iluminado

“Meu pai foi meu melhor e único amigo. Foi meu mestre, professor, ajudou-me em minha formação pessoal, como ser humano, e intelectual. Tudo o que eu sou devo a ele, com uma gratidão enorme”. Assim, o advogado Ricardo Augusto Gontijo Vivian define em poucas palavras, mas com um imenso significado, o que Javert Vivian Silva representou, e representa, para ele.

Além de ser um ser humano incrível, na opinião de todos que falam e lembram-se dele, Javert Vivian foi faixa preta em judô e professor dessa modalidade esportiva. Além de todos seus feitos profissionais, como servidor público, empreendedor e representante de classe, ele construiu uma bonita família com a professora Nilza Gontijo Vivian, seu primeiro e único amor, com quem foi casado por 49 anos.

Com ela, teve quatro filhos, sendo o mais novo, Ricardo Gontijo, advogado e empresário como o pai, Letícia Gontijo Vivian, psicóloga, Javert Vivian Gontijo e Silva, empresário, e Fabiana Gontijo Vivian, decoradora e fotógrafa. Ele também deixou duas netas, as jovens Laura Gontijo Vivian e Luciana Gontijo Vivian. A família é muito unida e todos estão sempre juntos.

A passagem se deu em dezembro de 2018, mas sua presença é sentida por todos e seu legado perpassará o avançar do tempo. Ele viveu uma vida plena, buscava na meditação a sabedoria para contornar as peripécias da vida. “Apesar de ter ido com 76 anos, viveu com intensidade, deixando uma família que amava e que o amava de uma intensidade tão grande que pouca gente consegue alcançar na vida”, expressou com ternura seu filho Ricardo Gontijo.

Mineiro de Florestal, mas que tinha Divinópolis como cidade natal e Contagem como cidade do coração, Javert Vivian não foi um ser humano comum que passou por esse mundo. “Ele era iluminado”, ressaltou seus amigos Humberto Nogueira e Ermelindo da Rocha Faria, o que foi confirmado por seu filho caçula.

 

Nobreza no sangue e na alma

A nobreza estava no sangue. Pelo lado materno, sua mãe era descendente de uma das mais nobres famílias de Minas Gerais, que teve como grande matriarca do século XVIII a famosa Joaquina do Pompéu. Também conhecida como Soberana do Oeste Mineiro, Baronesa do gado, Sinhá Braba, Grande Dama do Sertão, “Heroína Mineira da Independência do Brasil” dentre outros títulos, tendo sido uma das mulheres mais influentes da monarquia brasileira.

“Ela foi uma matriarca nascida em Pompéu, que deu origem a várias personalidades da história mineira. Uma senhora de grandes propriedades de terra, na época do império”, contou, com orgulho, Ricardo Gontijo. Na linhagem nobre, também consta o capitão José de Rezende Costa, um dos inconfidentes mineiros. Talvez por isso, Javert Vivian era de uma nobreza incrível. Não nobreza de titulo, mas pessoal, no modo de ser, de falar, de conduzir tudo em sua vida.

Seu pai, Geraldo Silva, foi comerciante e industrial de sucesso, mas em determinada época de sua vida teve uma grande perda financeira, com a falência de seus negócios, o obrigando a se reerguer e, posteriormente, ocupando altos cargos na Secretaria da Fazenda de Minas Gerais. Nesta época, Javert Vivian tinha 9 anos, quando começou a trabalhar.

Sua mãe, Clancy Vivian Silva, foi uma mulher simples, do lar, que sabia contemplar a natureza e ensinou os filhos os modos de se portar nas mais diversas ocasiões. Tudo isso fez parte da formação de Javert Vivian e seus três irmãos, Janot Vivian, que faleceu precocemente, Juarez Vivian, que foi seu sócio em empreendimentos, e Jeanet Vivian, uma grande educadora de Divinópolis, onde teve um colégio infantil e representou a cidade em eventos educacionais de nível internacional.

 

Da infância feliz ao reconhecimento

Javert Vivian teve uma infância muito feliz, ligada aos animais e à natureza. Seu pai tinha uma fábrica de macarrão e ele tinha a responsabilidade de sair às ruas, em cima de uma carroça, passando nos pequenos comércios, as populares ‘vendas’, oferecendo os pacotes para os comerciantes, gritando: “Talharim, talharim!”.

“Ele me contava essa história, com a lembrança de que sempre se divertia durante o trabalho”, recordou-se Ricardo Gontijo.

Com 15 anos, foi morar em Belo Horizonte para trabalhar no setor de almoxarifado de uma antiga fábrica de fogões. Sozinho, ele enfrentou muitas dificuldades, quando decidiu voltar à terra natal, ao prestar concurso para um banco de Divinópolis. Como bancário, logo foi convidado para trabalhar em Brasília, onde ficou por alguns anos, iniciando a faculdade de Direito. Sempre muito dedicado aos estudos, Javert Vivian voltou à Belo Horizonte e passou em primeiro lugar no concurso para auditor fiscal da Receita Federal. “Eram mais de 17 mil candidatos”, revelou Ricardo Gontijo.

Como auditor fiscal, ele conseguiu retornar mais uma vez à Divinópolis. Mas, a volta não demorou muito, pois, em virtude de ter sido aprovado em primeiro lugar, foi nomeado delegado fiscal de Juiz de Fora. Nessa cidade, fez uma grande carreira no estado, nomeado em altos cargos da Secretaria da Fazenda.

Mais uma vez, de volta à capital mineira, ele foi nomeado diretor de rendas e, posteriormente, procurador regional do estado de Minas Gerais, cargo em que se aposentou.

Como empreendedor, Javert Vivian fundou, juntamente com o irmão Janot Vivian, a Convivi – Construtora Vivian e por ela construiu centenas de prédios em várias cidades, entre elas Contagem. Nesta época, sua história pessoal se encontrou com o início da história da Associação Comercial e Industrial de Contagem (Acic).

Dedicado às causas sociais, foi rotariano por longos anos e entre 2008 e 2009 foi governador do Rotary International – Distrito 4760. Também foi o principal articulador da criação de um clube inovador, formada apenas por mulheres, batizado de Clube Rotary Contagem das Gerais.

“Havia muita resistência na época em criar um clube somente de mulheres e ele conseguiu nos ajudar a fundá-lo. Sou muito grata a ele, por isso, e por todos os grandes ensinamentos que tive em sua companhia”, destacou Estelita Turani, empresária e superintendente da Acic.

Assim, como Estelita Turani, Hipólito Ferreira também teve um grande convívio com Javert Vivian, por meio das ações sociais desenvolvidas pelo Rotary Clube. Com muito orgulho, ele, que é diretor mundial do clube, contou que a amizade de ambos durou cerca de 40 anos.

“A cada vez que se dirigia à tribuna, Javert falava da capacidade do ser humano de se reinventar. Assim, despertava no fundo da alma de seus ouvintes o desejo de gerar um sonho no recôndito da alma e o tornar realidade”, contou Hipólito Ferreira, com entusiasmo.

Para o diretor mundial do Rotary, Javert Vivian foi uma grande personalidade, cuja vida foi pautada pelo mérito, ética e uma liderança capaz de renovar as pessoas e o país. “Ele deixou um importante legado para todos seus amigos e cada um de nós tem uma responsabilidade muito grande: toda vez que falarmos de Javert, devemos nos referir ao compromisso com a própria pátria”.

 

A Acic de Javert Vivian Silva

A Acic iniciou sua história no final da década de 1970. Antes de ser uma entidade legitimamente contagense e independente, a associação começou vinculada à AC-Minas. Em 13 de julho de 1983, a Acic foi então fundada, com a forte atuação de um grupo de empreendedores que teve como principal liderança Javert Vivian Silva.

A primeira sede da associação foi cedida gentilmente por sua construtora. Era composta por três salas em um prédio da Convivi localizado na avenida João César de Oliveira. Com a palavra o próprio Javert Vivian: “Muitos foram os feitos da Acic nesses anos de existência, destacando posições firmes diante de muitos planos econômicos ‘mirabolantes’. Destaco o projeto de estatização dos bancos, o qual a Acic foi contra e não concordou por entender que seria danoso para o sistema; ergueu bandeira, culminando com a queda do projeto”.

            A fala acima, encontrada no site da entidade, é confirmada pelos companheiros que também participaram de todos seus momentos. “Nós não tínhamos lugar para nos reunirmos e Javert nos cedeu três salas em um prédio que ele tinha no bairro Eldorado, totalmente sem custos. Aí se desenvolveu a ideia de construir a sede própria, mas graças a ele, ficamos lá por uma década”, lembrou-se Ermelindo da Rocha Faria, empresário, ex-presidente da Acic e membro do Conselho da entidade.

Humberto Nogueira, também empresário, ex-presidente da Acic e membro do Conselho da entidade, lembra que foi por meio de um grupo de rotarianos de Contagem que surgiu a ideia de convidar a AC-Minas a abrir uma sucursal na cidade. “Javert, ao perceber que o grupo tinha condições de se desvincular da AC-Minas, conversou com o presidente desta entidade na época e expôs que o grupo tinha a intenção de ter uma associação independente, ou seja, que precisávamos caminhar sozinhos”.

Ambos os amigos relembraram uma importante reunião que ocorreu no Cine Teatro Municipal de Contagem que tinha como pauta a criação da Acic. Contudo, em virtude do viés político que o encontro estava tomando, Javert Vivian, sabiamente, conduziu o grupo a ter uma posição independente de questões políticas. Assim é a Acic até os dias de hoje.

 

Presença constante

Apesar de ter deixado a presidência há vários anos, Javert Vivian era sempre presente nas ações e principais decisões da Acic. Segundo a superintendente da entidade, Estelita Turani, ele se preocupava com todos os detalhes da associação.

“Ele ligava para saber tudo o que estava acontecendo, nos incentivava e parabenizava por estarmos nos fortalecendo cada vez mais. Quando um evento acontecia, sempre perguntava: ‘o protocolo já está pronto?’. Nós nos acostumamos a contar com ele para tudo, pois sempre sabia como proceder em qualquer situação”, lembrou-se.

Sua sabedoria foi muito bem ressaltada pelo amigo Ermelindo da Rocha. “A empatia de Javert, mesmo em situações tensas, era destacada. Sempre se mostrava receptivo ao que o outro estava expondo, ainda que não concordasse. Ele tinha uma facilidade muito grande no trato com as pessoas e sabia como ninguém administrar situações de conflito”.

“Se existe Acic, Javert é o responsável, juntamente com um grupo muito importante que ele liderava, para o qual era sempre presente”, complementou Ermelindo da Rocha.

Para Humberto Nogueira, quando ele chegava a um encontro ou reunião, sabia dominar todos os assuntos e chamava atenção a sua maneira como acrescentava em cada situação. “Nos impasses da Acic, sempre convidado, ele ouvida todas as partes e mesmo que as pessoas tentassem induzi-lo para um ou outro lado, ele conseguia apaziguar, encontrando uma solução”.

“Ele sempre tinha uma palavra otimista e de apoio para todas as situações, desde os problemas do país até as questões pessoas de seus amigos e colegas”, frisou Humberto Nogueira.

Atual presidente da Acic, Egmar Pereira Panta, endossa as falas dos colegas ex-presidentes da entidade. Para ele, Javert Vivian teve uma grande importância para Contagem em virtude de suas ações empreendedoras na construção civil, que auxiliaram na modernização e crescimento da cidade.

“Quando assumi a presidência da entidade, fui recebido por ele com muito carinho. Percebi que além da humildade e generosidade, ele era dotado de grande sabedoria, sempre ponderado na fala, ainda que participasse de discussões mais acaloradas”, destacou Egmar Pereira.

Na Acic, além de ter sido fundamental em sua fundação e na condução de suas ações durante todos esses anos, Javert Vivian também compartilhava conhecimentos, entre eles o dom da oratória. Vários foram os cursos ministrados por ele, que não se contentava em ser um ótimo orador, queria que os demais também aprendessem com ele a arte de falar bem e como se portar em público.

“Javert era uma pessoa que nunca conheci igual. Não tinha demagogia nas palavras, era sincero, puro e humano. Vai fazer muita falta na associação”, destacou Egmar Pereira.

Sem dúvidas, a Acic aprendeu muito com ele e seu legado para Contagem e Minas Gerais perpetuará por várias gerações.

VivaOnline

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